Saudades de escrever

domingo, 22 de setembro de 2013
Entrei só para postar o relato do parto e percebi que estava com saudades de escrever. Hoje o Oliver tem três meses e meio e meus momentos sozinha são para ir ao banheiro e tomar banho; comer eu como com ele no colo, mamando, enfim, como dá. Era para eu aproveitar esse tempinho agora à noite e ir dormir, descansar, para encarar a rotina do dia seguinte, mas hoje percebi que sinto falta de escrever. Ou seria falta de falar com alguém? Ou ninguém? 
Quando fiquei grávida não quis vir escrever, por que não queria que esse fosse o foco do blog. Agora que ele nasceu, eu não queria escrever, por que não queria transformar o blog, não queria mudar o foco, que o único assunto fosse maternagem e filhos. 
Mas quem eu sou hoje? Sobre o que mais eu escreveria se não quem eu sou e o que eu sinto nesse momento? Quero voltar a escrever, mas quero encontrar o balanço... Pode ser que eu fique mais um ano sem escrever, quem sabe? Só escrevi mesmo porque deu vontade, porque deu saudades...

Meu relato do parto do Oliver

E um ano se passou desde a última vez que postei no blog. Nesse um ano engravidei, gerei e pari meu grande amor, o Oliver. Resolvi quebrar o jejum do blog e colocar aqui o relato do parto dele. Para quem quiser ler, se informar, ou apenas tiver curiosidade. Sinto que conquistei tudo aquilo que sempre busquei: pari naturalmente na água amparada pelo meu amor. Fico devendo as fotos.

Dia 02 de junho de 2013

Dormi bem a noite, levantei às 10:20 para fazer xixi e antes de começar a fazer senti líquido descendo. Fiz xixi e percebi que o líquido continuava escorrendo. Mandei uma mensagem para meu marido que estava no andar de baixo: (SOS + uma bolsa + uma explosão + um bebê)
Ele achou que fosse brincadeira, respondeu "Best emoji ever". Quando respondi que era sério, só ouvi ele subindo a escada correndo. Ficamos bem animados, nosso bebê estava chegando!
Nos próximos minutos, tentamos organizar tudo que faltava, algumas coisas no quarto do bebê, outras no nosso. Mas a maior parte do tempo passamos deitados na nossa cama, conversando, fizemos uma oração para que tudo corresse bem. O dia estava perfeito, do jeito que gostamos, friozinho, chovendo. Pensamos: até nisso o bebê combina com a gente. Resolvi tomar um banho, o médico tinha me dito na última consulta que depois que a bolsa estourava eu ainda poderia levar 12 horas para entrar em trabalho de parto, então estava tranquila.
Tentei ligar para a Carol (minha doula), mas não consegui... Passaram alguns minutos, liguei para a Mari (fotógrafa), apenas para avisá-la que a bolsa tinha estourado, perguntei se ela tinha alguma coisa para fazer naquele domingo, e o que achava de fotografar um parto. Ela ficou super animada, eu disse que estava calma e ainda não estava tendo contrações, então não sabia quanto tempo ainda levaria.
Logo as contrações começaram a vir, doloridas, mas bem controláveis. Passei a maior parte do tempo deitada, tentando posições, prestando atenção na respiração. De vez em quando sentia o líquido saindo e ia para o banheiro.
Peguei o livro Parto Ativo (que não terminei de ler) e lia algumas coisas que estavam acontecendo comigo. Continuei tentando falar com a doula...
As contrações vinham bem desreguladas, mas bem doloridas. Nenhuma posição era boa, então continuei deitada e pedia a mão do marido durante elas. Duravam 40 segundos, ele marcando no cronômetro, avisava quando iria parar, geralmente era bem exato.
Comi um pouco de Galak. Minha sogra ligou e perguntou se estava "tudo tranquilo", marido não mentiu, disse que sim. Mas achamos melhor esperar mais um pouco para contar que logo o bebê chegaria.
Resolvi ir para o chuveiro, deixar a água cair, tentar relaxar um pouco. Sentei em um banquinho, deixava a água cair na base das costas, mas já estava bem dolorido e a única posição boa era em pé, resolvi sair, pois estava ficando mais cansada do que relaxando. Lembro de ter tido uma contração MEGA dolorida assim que saí do chuveiro, ainda estava enrolada na toalha e foi a única hora que lembro de ter chorado, achei que não fosse conseguir, doía muito. O marido estava junto e foi bem tranquilizador ouvir ele me dizendo que eu iria conseguir sim. Quando a contração passou me olhei no espelho e a barriga estava super baixa, já cabia um palmo entre os seios e a barriga.
A partir daí as contrações começaram a vir mais próximas e ritmadas. Quando fiz xixi, saiu um pouco de sangue no papel e fiquei preocupada (na hora nem lembrei do tampão). Comecei a apavorar um pouco, tudo estava indo muito rápido e ainda não tinha conseguido falar com a doula.
Resolvi entrar na internet para distrair durante as contrações, em um grupo de amigas que já estavam sabendo do trabalho de parto e estavam animadas. Falei que as contrações estavam próximas (de 3 em 3 minutos) e elas me doulando virtualmente. Conversei com a Cris, outra doula que faz parte do grupo e pedi para ela vir me ver. Rapidinho ela chegou e trouxe uma bola de pilates para eu relaxar. A partir daí, sentava na bola em todas as contrações e ela ou o marido sentavam atrás de mim para dar apoio e eu segurar a mão deles.
Eu não tinha noção de que estava tendo um trabalho de parto rápido. A Cris perguntou o quão suportáveis (ou seria insuportáveis?) as contrações estavam.
A questão é que decidimos ter o bebê na Maternidade de São Carlos, uma cidade a 40km de Araraquara, pois lá eles apoiam não apenas o parto normal, mas o parto natural humanizado e era o que queríamos na hora de trazer o Oliver ao mundo.
Como eu disse que as contrações já estavam muito doloridas e que temia que piorassem na próxima hora, a Cris sugeriu então que a gente comesse algo, nos arrumássemos e fossemos logo. Como ainda não tinha conseguido falar com a minha doula, pedi para que a Cris fosse junto. Ela foi para casa e combinamos de passar lá para pegá-la em uma hora.
Marido desceu para fazer almoço e eu fiquei na cama, entrei um pouco na internet e avisei minha amiga Leli, de Campinas, que logo ele nasceria. Consegui conversar com minha doula e como combinado ela iria conosco para São Carlos, avisei então a Cris que ela estava liberada, já que estava acompanhando outra gestante.
Daqui para frente, tudo começou a correr muito rápido e minhas lembranças são bem confusas, lembro de flashs e muitas sensações misturadas, seria eu entrando na tal da partolândia?
Levamos a bola para baixo, colocamos ela entre os dois sofás e a única posição suportável era eu sentada na bola, segurando as mãos de quem estivesse atrás de mim. O almoço ficou pronto, dei algumas garfadas entre as contrações, eu sabia que precisava comer para ter energia para o parto, mas não consegui comer muito. A Carol e a Mari chegaram, o Jo comeu e subiu para pegar nossas roupas para irmos embora. A Carol assumiu a posição de apoio, lembro dela dizer que as contrações são comos as ondas e que cada uma traz meu bebê mais perto de mim, mas eu tinha certeza que ela tinha me dito isso no hospital.
Como as contrações eram muito próximas, todo o processo de nos arrumarmos e irmos embora foi bem demorado. O Jo ligou para os pais dele e para meu pai para avisar que estávamos indo para São Carlos. Entramos no carro, todos olhamos para o relógio: 16:00 em ponto! Esse trajeto de carro foi a parte mais difícil do trabalho de parto. O Jo foi dirigindo, eu e a Carol fomos atrás e a Mari seguiu com o carro dela. O difícil foi achar uma posição, deu uma saudades da bola!
O que não esperávamos era pegar engarrafamento. Assim que entramos na estrada já estava tudo parado, era final de feriado e estava chovendo, tinha bastante carro parado no acostamento.
Fomos seguindo, mas quando percebemos que o engarrafamento era realmente longo bateu um certo desespero. Pedi para o marido ir pelo acostamento quando desse, ele ligava o pisca alerta e ia, mas quando via uma sirene ou algum carro parado, entrava de novo.
O trajeto Araraquara/São Carlos leva uma meia hora geralmente. Quando deu 16:30, nós ainda não tínhamos saído de Araraquara. O Jo viu uma ambulância parada e parou para conversar. Ele queria saber se a ambulância poderia abrir caminho para passarmos e o motorista disse que não, também disse que não adiantava chamar a polícia, que não pode trafegar pelo acostamento (nem em trabalho de parto, será?). A opção que o motorista deu foi me colocar na ambulância, mas ele teria que me levar para Araraquara, pois era o hospital mais perto. Quando ouvi isso, entrei em desespero, tinha me preparado tanto, buscado tanto, não queria acabar em um hospital onde sabia que não seria respeitada. Marido voltou pro carro, explicou a situação, disse que provavelmente estava tudo parado até São Carlos e perguntou o que eu queria fazer. "Vambora" pra São Carlos, voltar não era uma opção. Na pior das hipóteses, se o bebê estivesse nascendo, a gente parava o carro e chamava os bombeiros, esse era o plano b.
Daí em diante o trabalho de parto mudou, senti meu corpo conspirando para que chegássemos no nosso destino, eu entrei em tipo de um transe, quando vinham as contrações elas continuavam mega doloridas, mas quando elas passavam eu relaxava que mal conseguia falar. A Carol me ofereceu mel e lembro do gosto até hoje. A única posição que eu ficava era sentada, com as pernas para frente e quando vinha a contração eu me inclinava para frente, segurava naquela alça que tem dentro do carro. Não sei em que ponto, comecei a vocalizar quando vinham as contrações, um som continuo "aaaaaaa" e isso ajudava na dor.
Durante o caminho, lembro de perguntar para o Jo se ele estava bem, até hoje ele tira sarro da minha cara, dizendo que ele estava ótimo, só estava dirigindo, quem estava parindo era eu. Mas a minha preocupação era se ele estava tranquilo. Tanto ele quanto a Carol me passaram uma paz, uma confiança tão grande que nunca duvidei que fosse conseguir. Lembro da Carol dizendo "Isa, estamos em Ibaté!" (Metade do caminho) e também lembro dela anotando em um caderninho amarelo, fiquei curiosa para saber o que estava escrito lá.
Chegando em São Carlos comecei a sentir vontade de fazer força, assustei um pouco, pois estávamos tão perto agora, a Carol me acalmou. O Jo perguntando se deveria passar também nos sinais vermelhos, estávamos tão perto que dava medo avançar e bater. Enfim chegamos! 17:00, até hoje nunca levamos tanto tempo para chegar em São Carlos, mas trabalho de parto sem história para contar não tem graça, né?
Quando chegamos foi um pouco tenso, eu já sabia que estava em trabalho de parto avançado, que logo ele chegaria e disseram para esperar a enfermeira chegar, me ofereceram uma cadeira de rodas e eu aceitei. Não tenho noção de quanto tempo se passou, sei que não foi muito, mas com as contrações uma seguida da outra estava ficando impossível ficar ali. Eu já tinha ficado uma hora sem poder trocar de posição, agora queria encontrar uma que aliviasse um pouco a dor. O Jo foi fazer a internação, pedi para Mari me dar a mão, meu Deus, como doía! De repente eu senti o Oliver descendo dentro de mim, comecei gritar "Tá nascendo, tá nascendo" e esse foi o único momento que vi todos apavorarem. Eu não sabia que na verdade ele só estava encaixando, o Jo perguntou se eu queria tirar a calça (na recepção do hospital) e juro que cogitei, a Carol disse mais tarde que não ia se perdoar chegar até ali e eu parir na recepção! No fim, esse pavorzinho serviu para agilizarem e brotou uma enfermeira para me levar para o quarto. Ela foi me perguntando algumas coisas e eu só respondia o necessário, dentro do elevador, lembro de dizer que estava de 39 semanas e um dia.
Assim que saímos do elevador, a Carol leu para mim uma frase que estava escrita na parede sobre todos se silenciarem pois as mulheres iam falar, eu já tinha lido aquela frase as vezes que fui visitar a maternidade, tinha achado lindo, mas agora aquilo tinha outro sentido.
Entrei no quarto, deitei na cama e a enfermeira disse que ia fazer um toque, perguntei se ela poderia esperar a contração parar. Assim que ela fez o toque disse "dilatação total!", a reação da Carol e da Mari foi a melhor, elas vibraram tanto que só faltou confete.
Perguntaram se eu queria entrar na banheira e aceitei, em casa a água tinha sido boa. Não lembro de ter tirado a roupa, quando vi já estava dentro da banheira, tentei ficar sentada, não estava bom. Então ajoelhei e fiquei virada para fora da banheira, apoiada no encosto da cabeça e essa foi a posição que fiquei até ele nascer, até tentei mudar, mas não dava, só assim ficava bom. *Pause para um comentário interessante* Algo muuuito curioso é que como eu fiquei de joelho bastante tempo eu senti que o fundo da banheira era acolchoado, achei genial aquilo. Depois que tudo tinha passado, eu comentei isso e me disseram que o fundo era de uma banheira normal, de plástico, duro!
Mas continuando... As enfermeiras perguntavam muitas coisas, se já tínhamos avisado o médico (tentamos na estrada, mas ele não atendeu), quem era a pediatra, onde estava sabe-se lá o quê! Eu não queria ter que pensar nessas coisas, respondia como dava.
Não deve ter passado muito tempo, mas lembro de olhar para Carol e dizer que não estava preparada. Tudo estava acontecendo tão rápido, eu não tinha percebido o quanto eu tinha idealizado o trabalho de parto. Várias horas, várias posições, imaginava que teríamos um bom tempo em São Carlos (a Carol levou até crochê para fazer!) mas nada acontece como imaginamos, ele já estava chegando. A Carol falou para eu parar de pensar no parto, mas como se faz isso? Pensei no Jo, cadê ele? Já pensou passar por tudo isso e ele não estar lá quando o filho chegasse?
Mais uma vez, não tenho noção de quanto tempo levou, mas enfim o Jo chegou, ele ficou de frente para mim e a Carol foi fazer massagem nas minhas costas, como era bom.
Se no carro vocalizar durante as contrações ajudava, agora no expulsivo eu berrava! Nunca imaginei que fosse ser tão escandalosa, mas naquela hora eu não pensava em nada, só queria que o Oliver nascesse. Alguém falou para que eu chamasse ele e eu gritava "vem bebêêê!"
O médico chegou e para mim, ele era apenas uma voz. Eu escutava ele falar, conversamos algumas vezes, mas eu não enxergava ele.
Apesar da dor, o que eu mais queria durante o parto era sentir ele nascendo, em momento algum pensei em pedir algo para a dor, nem anestesia, a cesárea também não era uma opção para fazer a dor parar. Um dos motivos que eu quis o parto normal era porque eu queria sentir tudo, queria participar, mas eu não fazia ideia do quanto iria sentir, eu sentia o corpo dele todo lá dentro e sentia cada vez que ele se mexia, que descia, foi com certeza a experiência mais incrível da minha vida! Eu sentia ele descendo cada vez mais e a impressão que eu tinha era que ele já estava praticamente do lado de fora, perguntei se faltava muito, disseram que não.
Colocaram um espelho no fundo da banheira e a cada contração acendiam uma lanterna para ver, eu estava de costas, então não via nada, mas já dava para ver os cabelinhos dele . Tive vontade de por a mão, mas na hora perdi a coragem e resolvi me focar em fazer ele nascer.
Em determinado momento comecei a gritar "tá queimando, tá queimando", e o Jo que estava controlando a temperatura da água perguntou se a água estava muito quente, hahaha. A Mari disse que o Jo tinha pulado esse capítulo do livro Parto com Amor. Na verdade era o tal do círculo de fogo, que eu já tinha lido tantas vezes mas não imaginava o que poderia ser. O mais bizarro desse momento é que, mentalmente, eu vi um círculo de fogo, agora estava mais próximo do que nunca!
Eu fiquei bem tensa durante todo o expulsivo, já não pensava mais que não estava preparada, mas a cada contração que o Oliver descia, eu sentia que precisava "segurar" ele naquela posição para não voltar, então nos intervalos eu estava toda contraída. O médico falou para eu relaxar e eu disse que não podia, que ele ia voltar, ele então disse, "é o contrário, se você relaxar ele nasce". Eu tenho apenas alguns flashs na memória, lembro de uma das enfermeiras vindo me encorajar, dizendo que logo ele nasceria, lembro de ver a Mari pela primeira vez com a câmera na mão e eu dizendo que ela podia tirar uma foto se quisesse, hehehe. Perguntaram para o Jo se ele queria sentir o cabelo do nenê, ele até foi, mas na hora não teve coragem.
E daqui para frente, tudo foi ainda mais rápido, outra enfermeira veio me dizer que na próxima contração a cabeça dele sairia, mas que se eu continuasse fazendo força, mesmo fora da contração ele nasceria. Pensei "vambora!"
Então, na próxima contração senti a cabeça dele saindo, continuei fazendo força e senti passando os ombros, o peito e depois não senti mais nada. Agora tudo aconteceu em câmera lenta, olhei para a Carol e ela disse, "Isa, olha pra ele, ele nasceu," e eu não tinha coragem de olhar! Meu Deus, que coisa mais louca! Ouvi o médico dizer que ele estava todo enrolado, quando olhei, ao invés de desenrolar, ele tinha enrolado mais ainda no cordão. A lembrança que eu tenho é muito vaga, mas lembro tanto do rostinho dele e hoje vejo como já era a carinha de Oliver que ele tem.
Em seguida ouvi a pediatra (ela chegou em algum momento, até falou comigo, mas eu nem lembrava) dizer que precisava cortar o cordão logo, o Oliver tentou respirar sozinho, mas não conseguiu. Hoje me questiono se não deveríamos ter esperado um pouco mais, afinal ele ainda estava com o cordão ligado a mim. E de repente tudo ficou estranho, tive tanto medo. Levaram o Oliver e pediram para eu sair da banheira. Eu obedeci, mas na minha cabeça eu pensava que não era assim que deveria ser, eu tinha que sentar na banheira, entregarem ele no meu colo e quem cortaria o cordão seria o pai.
Me sentei na cama, o Jo ao meu lado e eu tinha medo de perguntar se estava tudo bem com o Oliver, ainda não tinha ouvido ele chorar, nem ninguém dizer se ele estava bem, parece que tudo isso demorou tanto, e eu não conseguia perguntar se estava tudo bem. O Jo disse que na verdade eu perguntava dele sem parar. Ele finalmente chorou, que alívio! Pedi para que o Jo fosse ficar com ele, que eu estava bem. Perguntei que horas ele tinha nascido, disseram 6:15 e eu perguntei "da tarde?", hahaha, tava tão passada que nem raciocinava muito. Eu sabia que o expulsivo tinha levado um tempo (foram 40 minutos), mas achei melhor confirmar, né, vai que tinha levado 12 horas e eu não reparei, hehehe.
O médico me examinou e disse que precisaria dar dois pontos, o mais engraçado foi ele dizer que iria "doer um pouquinho" para aplicar a anestesia, depois do que eu tinha passado ele poderia dar ponto até sem anestesia. Em seguida, ele apertou minha barriga para a placenta sair e doeu demais, perguntei se não dava para deixar sair sozinha, ele disse que apertaria mais uma vez e que se não saísse poderia esperar, mas assim que ele apertou ela saiu e não doeu tanto quanto eu imaginava. Pedi para ver e lembro que o formato parecia um coração, tão simbólico, pois ela tinha nutrido meu bebê todo esse tempo. Eu queria ter feito uma impressão da placenta para guardar, mas esqueci de avisar e na hora nem lembrei. Mas acho que tem uma foto dela.
Minhas lembranças ainda são muito confusas, eu sei que logo me entregaram o Oliver, a primeira coisa que fiz foi contar os dedinhos, clichê, eu sei, mas finalmente poder fazer isso era bom demais. Ele nasceu a cara do pai, não dava pra negar, mas a mancha vermelha na testa era minha! Ele pesou 2.950 gramas. 45cm. Curtinho e recheadinho. Os pais do Jo entraram para conhecer o neto, minha amiga Leli também chegou. Fiquei tão emocionada quando a vi, a primeira coisa que falei foi "amiga, eu pari", comecei a me dar conta de que tudo tinha realmente acontecido, abracei ela, foi muito especial ter ela ali comigo. Logo chegaram meu pai e meu irmão! Como coube gente naquela sala, hahaha.
A Carol perguntou se eu queria colocar ele para mamar, aceitei claro, antes de ficar grávida o que eu mais queria era amamentar. Assim que coloquei ele no peito, já abriu a boca e sugou, ainda levou um tempo para sugar certo, a boca dele era minúscula e dava um trabalhão para abrir.
A enfermeira então pegou ele para vesti-lo, as fraldas tinham ficado no carro e o Jo correu buscar. Enquanto isso escolhi a primeira roupinha que ele iria vestir. Ela perguntou se poderia dar a vitamina K e aplicar o colírio e lembro da Carol falando "se eu não te falar isso, vou me arrepender pra sempre: não deixa pingar o colirio", já tínhamos pesquisado sobre e resolvido não pingar. Como não conseguimos evitar algumas intervenções com ele, fiquei feliz de ter conseguido evitar essa.
Já tinha passado um tempo que ele tinha nascido e eu ainda estava sem roupa e com o lençol todo sujo, estava me sentindo meio agoniada. Pedi para a Carol me ajudar e fomos ao banheiro, minha pressão baixou, sentei um pouco e quando me senti melhor tomei um banho. Nada como um banho! O Jo ficou com o Oliver no quarto, enquanto levaram nossas coisas para o outro quarto, nessa hora a Mari foi mais que fotógrafa, mais que doula, pegou todas as nossas coisas, minhas roupas, colocou tudo em saquinhos e arrumou no outro quarto.
Quando a enfermeira voltou e me viu tomando banho levou um susto, disse que eu deveria ter esperado ela me ajudar. Mas eu estava me sentindo bem, não senti necessidade de esperar. Assim que saí do banho minha pressão caiu novamente e dessa vez quase desmaiei, meio estranho isso. Eu ouvia a Carol e a enfermeira falando, mas eu não consegui falar. Me sentei e fiquei esperando a cabeça voltar ao normal. Quando melhorei, me troquei e sentei em uma poltrona no quarto, o Oliver estava com o Jo e ficamos ali um tempo ainda.
Depois fomos para o outro quarto e estava todo mundo lá, me entregaram o Oliver e coloquei ele pra mamar de novo. Ficamos um bom tempo conversando, tirando fotos, me lembro de olhar para o Oliver, passar a mão na orelha dele e dizer "nossa, até que ele nasceu bonitinho. Eu acho ele bonitinho, vocês, não acham?" Estava começando me apaixonar por ele. Minha janta chegou e comi, estava com tanta fome que pedi mais um prato de sopa.
Lá pras 9 da noite foram todos embora e ficamos eu, o Jo e o Oliver, logo ele dormiu, colocamos ele no bercinho. Uma enfermeira veio me ver, pedi ajuda para usar o banheiro, como o fluxo estava bem intenso ainda, ela ligou para o medico e ele pediu para me aplicarem uma injeção de ocitocina para diminuir um pouco.
12 horas depois do início do trabalho de parto nos deitamos e começamos conversar sobre tudo que tinha acontecido. Como foi tudo tão rápido, quando acordamos aquele dia não poderíamos imaginar que terminaríamos o dia com nosso filho ao nosso lado! Difícil foi aquietar os nervos e descansar... Passamos ainda um bom tempo mandando mensagens para os amigos, alguns ligaram, foi bem legal. Finalmente resolvemos dormir, apesar do Oliver ter dormido super bem, para mim foi uma noite bem agitada. Mas deu para descansar um pouco. Determinada hora, ele chorou, peguei ele, ele mamou um pouco e colocamos ele no nosso meio. E ali ele dormiu o resto da noite, um pacotinho. Às vezes ele reclamava, eu passava a mão nele e ele voltava dormir. Escolhemos aquele quarto da maternidade pois achamos que seria bom durante o trabalho de parto, mas nem poderíamos imaginar como ele seria bom no pós parto; poder dormir nós três juntos, no primeiro dia de vida do Oliver foi bom demais.
Difícil saber quando parar esse relato, pois é apenas o começo de uma história tão longa. A alegria que senti naquele dia não se compara à alegria de ter ele na minha vida hoje. Eu e o Jo sempre nos consideramos uma família, completa e perfeita, mesmo sem filhos, mas agora com ele somos muito mais felizes.
Tantas pessoas foram tão importantes que não arrisco mencionar algumas e correr o risco de esquecer outras.
Mas quem eu não posso deixar de agradecer é meu marido lindo, muito obrigada por tudo, por acreditar em mim, pelo apoio, por me manter tão calma. Ao seu lado aprendi a enxergar amor de formas tão diferentes e agora tenho aprendido ainda mais. Como é lindo ver você com o Oliver, quando nos conhecemos há 12 anos atrás não poderia imaginar que a vida nos traria até aqui e sou muito feliz por isso. Amo você e saber que esse amor gerou um fruto tão lindo como o Oliver é simplesmente incrível.

Ps: Depois de analisar toda a experiência, resolvemos que na próxima gravidez sairemos de casa assim que a bolsa estourar, haha.